quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Mumia Abu Jamal: 25 anos no Corredor da Morte

Em dezembro de 1981, na Fila-délfia, Mumia Abu Jamal circulava com o seu táxi e surpreendeu o policial Daniel Faulkner espancando seu irmão. Havia um outro homem, não identificado, no meio da briga. A polícia chega ao local, após toda a confusão, e surpreende Jamal ferido e o policial morto. Mumia portava uma arma – o que é comum entre taxistas que trabalham à noite – mas as balas que atingiram o policial nunca poderiam ter sido disparadas pela arma dele (as balas eram calibre 44 e Mumia portava um 38...). Nenhum exame de balística foi realizado. Nenhuma das testemunhas que alegaram a inocência de Jamal foi arrolada no processo, inclusive uma delas chegou a declarar que tinha sido ameaçada de morte por um policial caso testemunhasse. O juiz que presidiu o processo, Albert Sabo, declarou publicamente sua hostilidade em relação a Jamal, que em sua juventude foi membro do partido Black Panther´s.

Jamal foi levado a julgamento em junho de 1982 e condenado à morte em 3 de julho. Sabo já era famoso como o “recordista” em número de condenações à morte (seis antigos promotores de Filadélfia declararam, sob juramento, que nenhum réu poderia esperar julgamento imparcial na Corte de Sabo). Sabo é também membro da FOP (Ordem Fraternal da Polícia), assim como alguns membros da corte que rejeitou a apelação. Aliás, nos EUA os juízes são eleitos e Sabo teve apoio da FOP em sua eleição (assim como 5 dos 7 juízes da corte que também receberam o tal apoio da FOP). O júri só foi formado após a remoção de onze negros perfeitamente qualificados. A promotoria alegou que Jamal teria confessado, no hospital, a autoria da morte de Faulkner, porém um relatório assinado pelo policial Gary Wakshul (que fez a guarda do réu), e que não foi apresentado ao júri, diz que “o negro nada comentou”. O médico de Jamal também negou ter ouvido qualquer confissão e declarou que ele estava incosciente.

O FBI (polícia federal) apresentou, como “prova” contra Jamal, um arquivo de mais de 600 páginas contendo um resumo de suas atividades como militante do movimento negro, o que desnuda o viés político do julgamento. Mumia já havia sido preso durante um protesto contra o racista George Wallace, então em campanha presidencial. Entre os “crimes” relatados no julgamento pelo FBI estão: a participação de Mumia no movimento para rebatizar sua escola com o nome Malcolm X e a ajuda na criação do comitê do Partido dos Panteras Negras (Black Panther) na Filadélfia.

Apenas 9% do estado da Pensilvânia é formado por negros. No entanto, estes figuram como 62% entre os condenados a morte. Um estudo do Professor Baldus da Universidade de IOWA diz que um negro neste estado possui 11,5 vezes mais chances de acabar condenado à morte do que na Geórgia ou no Alabama.

Mumia, formado em jornalismo, foi membro da redação central do jornal do movimento Black Panther, locutor de rádios locais e de uma rede nacional de emissoras negras. Ficou conhecido como “A Voz dos que Não tem Voz”. Em seu programa, as principais denúncias estavam relacionadas a crimes de racismo ou violência policial. Nos anos 70, integrou de uma lista do FBI de pessoas que “ameaçam a segurança dos Estados Unidos”. Mumia é vigiado pelo FBI desde os 14 anos de idade.

Isto é o que os americanos chamam de “justiça” e que muitos acreditam ser a maior “democracia” do mundo.

Fontes:

“Eles não querem só minha morte. Eles querem o meu silêncio”
José Arbex Jr.
Revista Pangea

Livro “Ao Vivo do Corredor da Morte”
http://www.conradeditora.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=91

Site “Mumia Abu Jamal´s Freedom Journal”
http://www.mumia.org/

Site “Free Mumia”
http://www.freemumia.org/