sábado, 17 de março de 2012

Des-inaugurando o Castro Mendes



A cidade de Campinas carrega nas costas o peso de ter demolido seu maior teatro, o Teatro Municipal de Campinas Carlos Gomes (foto), em 1965. O Teatro Castro Mendes surge justamente de uma tentativa de preencher esta lacuna, nove anos depois, através da adaptação de um antigo cinema, o Casablanca. Sem a mesma imponência arquitetônica e com uma capacidade de acomodação de público muito menor (831, comparados aos 1300 do Teatro Municipal), o Castro Mendes vive um de seus piores dias na cidade. Fechado para uma reforma em 2007, com uma previsão de entrega de apenas 4 meses, o Castro Mendes encontra-se literalmente abandonado, com suas obras paralisadas. É importante que não se perca de vista a relação direta entre a gravidade do estado do Castro Mendes e a gestão de Francisco de Lagos e seus operadores de confiança na Secretaria de Cultura.


Diversos grupos culturais organizados da cidade, que compõem o movimento Levante Cultura, organizaram um ato em frente aos tapumes da obra do Castro Mendes nesta quinta-feira, 15 de março. A des-inauguração do teatro começou no fim da tarde, com uma marcha fúnebre, e seguiu pelo início da noite, com direito a cerimônia de des-inauguração com trajes de gala. Só mesmo preservando o bom humor é possível para um artista sério e comprometido sobreviver em Campinas nos últimos anos. Por isso a ironia veio em boa hora.


A situação do Teatro Castro Mendes é emblemática. Os equipamentos da Secretaria de Cultura não possuem manutenção adequada há anos. Um rápido olhar para o Centro de Convivência, ou mesmo espaços recém "reformados" como o Espaço Cultural Maria Monteiro (o Teatro do Padre Anchieta) ou a Estação Cultura, descortina o caos. A falta de concursos para a contratação de novos funcionários para a manutenção e o descaso das "autoridades" que passaram pela Secretaria de Cultura produziram uma bola de neve cujo controle será tarefa impossível para 2012. Somente um novo governo, com uma nova mentalidade, com gestores qualificados, sob pressão dos movimentos sociais da cultura e da opinião pública em geral, poderá dedicar a estes espaços a atenção necessária, sob o ângulo de uma nova gestão que seja efetivamente capaz de preservar nosso patrimônio cultural de 2013 em diante. Que venham as eleições.

Vale a pena visitar o Blog Pró-Memória, fonte da foto do Teatro Municipal e de parte da pesquisa.