sexta-feira, 19 de março de 2010

Estética Urbana: Protestos Contra o Cinza do Kassab


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Um grupo de pixadores* atropelou, nesta madrugada, um muro da 23 de maio onde está exposto um trampo da dupla "osgemeos". Os irmãos ainda não se pronunciaram sobre o caso. Nos pixos, palavras de ordem contra Kassab e a Prefeitura de São Paulo, além da inscrição "200 mil", valor que atribuem ao custo do trabalho feito pelos grafiteiros.

Via de regra, existe uma política de boa vizinhança entre grafiteiros e pixadores. Quando este pacto se rompe, geralmente existe alguma desavença específica por trás. Neste caso, onde um grupo se organizou para protestar contra a Prefeitura (que têm espalhado sua "política do cinza", apagando graffitis), acabou sobrando para a dupla "osgemeos" também. Segundo informações que circulam na grande mídia, o grupo é o mesmo das intervenções na Bienal e no Centro de Belas Artes. Me parece que a imprensa brasileira quer jogar tudo no mesmo balaio, até como tática para dividir o movimento.


A mesma Avenida 23 de maio (muro da foto acima) já havia sido palco para um grupo de 150 grafiteiros e pixadores em setembro do ano passado. Entre os graffitis, haviam pixos "fora kassab" e "apaguem os problemas da cidade". Antes disso, o muro já havia sido pintado de cinza numa ocasião, quando a Prefeitura apagou "por engano" um trampo feito pela dupla "osgemeos". No ano passado, uma nova ação da Prefeitura deixou o muro cinza novamente, desta vez respeitando a alça de acesso onde estavam novos graffitis feitos pela dupla "osgemeos". Desta vez, o protesto não poupou nem o trampo da dupla, atravessado pelos pixadores.

É um bom debate a ser feito: que padrão estético interessa aos grandes centros urbanos. Muitos rejeitam o pixo (o graffiti já vêm sendo mais aceito...) como se o amontoado de prédios e muros cinzas manchados de fumaça fossem a última maravilha estética. Mesmo a poluição visual dos anúncios e propagandas, geralmente, é feita de forma desordenada e sem critérios.


O graffiti acima, de autoria de "osgemeos", foi apagado. Nunca mais será visto nas ruas de São Paulo...

Outra questão a ser pensada é o mundo da arte em si: este precisa urgentemente passar por uma completa revolução! Quem legitima a arte? Quem diz o que entra ou não numa galeria? Mais do que isto, quem consome e paga caríssimo por uma obra somente porque é moda ou é um bom investimento (aff...) financeiro do ponto de vista do mercado? Pra que serve a arte? São questões a serem pensadas...

Os pixadores, assim como os grafiteiros, precisam ter a clareza de quem são seus verdadeiros inimigos. Do contrário, ações como esta podem cair na banalidade, mesmo no meio underground, entre aqueles que estão nas ruas. O protesto só vale se feito com um objetivo, do contrário é rebeldia sem causa, totalmente despolitizada. Se bombardeamos uns aos outros, através de "fogo amigo", quem se beneficiará com isto será a elite conservadora, que hoje dirige São Paulo através do prefeito Kassab (DEM) e sua política "cidade limpa".

Na foto acima, a 23 de maio cinza do prefeito Kassab (DEM).

Acredito que a onda de intervenções que os pixadores vêm realizando na capital paulista têm o mérito de estar pautando um debate e uma reflexão importante. O perigo é a banalização. Existe um risco, a ser evitado, que é a perda da direção dos movimentos. São ações que estão no limite entre um protesto organizado e politizado, e uma mera rebeldia juvenil. Num movimento de protesto, existem pessoas que se mobilizam pelo ibope, pela adrenalina, outros pela crítica, pelo protesto. Estes últimos é que devem estar a frente do processo, até para que suas miras se voltem para o alvo certo.

*Obs.: Uso pixo com "x" por ser esta uma grafia usada pelos pixadores, pois demarca uma diferenciação com outras formas de pichação (política, punk, etc.).

2 comentários:

Anônimo disse...

Curti muito o blog.... Gostaria de trocar ideias com o(s) organizador(res). Basta comentar de volta.
Valeu (y)

@Detachez

Elemento disse...

Visita retribuída ;)
Valeu pelo comentário!