domingo, 2 de março de 2008

Power to the People!






A encruzilhada Democrata...

Com a impopularidade de Bush em função de diversos fatores – entre eles, o principal, a questão da guerra no Oriente Médio – o Partido Republicano se apresenta com dificuldades para a próxima eleição presidencial nos EUA. Já entre os Democratas, dois personagens se destacam nas primárias que decidem quem será o candidato da legenda: Hilary Clinton e Barak Obama. O segundo, Obama, ganhou fôlego e abriu vantagem nos últimos momentos. Obama repercute, com sua candidatura, a possibilidade de um negro assumir o controle da Casa Branca. Hilary, por sua vez, acena com a possibilidade de uma mulher no controle, o que também seria um fato novo.

O exemplo do Pelé, no Brasil, é um ótimo paralelo que pode simbolizar o drama que o movimento negro norte-americano vive com estas eleições. Pelé, como cidadão, deixou a desejar em diversos momentos, como quando não assumiu a paternidade de sua filha. Como negro, nunca usou de seu prestígio para contribuir com o movimento negro de alguma forma ou atacar o racismo de nossa sociedade. Por outro lado, quem conhece a história do futebol no Brasil sabe como os clubes eram racistas no passado. O próprio Pelé foi recusado pelo Corinthians pela cor de sua pele, antes de jogar no Santos. Pelé, mesmo que involuntariamente, ajudou a quebrar estigmas e fortaleceu a auto-estima dos negros no Brasil através de seus feitos dentro de campo, e isto não pode ser ignorado. Uma coisa é o papel histórico que ele cumpriu dentro de campo, outra coisa é a sua inclinação política pessoal conservadora fora de campo. Reconhecer a posição histórica do Pelé é uma coisa. Votar nele para presidente da República seria outra coisa, bem diferente...

A candidatura de Obama coloca o movimento negro numa situação tênue: sua vitória pode sim fortalecer a luta contra o racismo em um certo aspecto, de forma pontual. Mas, se fizermos a conta inteira, o saldo tende a ser extremamente negativo. Quem cresceu tendo como referência as loiras dos programas infantis, e vendo na TV um único negro inserido (o Mussum, bêbado e falando errado...) que mais fortalecia o estereótipo racista do que qualquer outra coisa, sabe a importância destas referências para a auto-estima, para a imagem socialmente construída a respeito dos negros. Por outro lado, sabemos que do ponto de vista da luta de classes, Democratas e Republicanos são farinha do mesmo saco, com nuances diferentes apenas. Mais do que isto, ver um negro presidindo os EUA - algo que já foi representado em filmes hollywoodianos e que já foi tema de letras do Public Enemy – pode ter um custo muito caro para os próprios negros se considerarmos o que Obama representa em termos políticos.

O discurso dos que afirmam que o racismo já está superado se fortalece com a eleição de Obama, pois será reforçado pela idéia de que “os EUA são tão democráticos que até elegeram um negro presidente”. Não faz sentido para os negros norte-americanos elegerem um negro que não defenda uma política de superação das desigualdades raciais. Pelo contrário, Obama representa os setores da sociedade norte-americana que historicamente oprimiram e exploraram os negros. O exemplo do negro “bem sucedido”, em parte, quebra estereótipos, mas, também em parte, fortalece o discurso hipócrita e demagógico da democracia racial. Como Obama vai se posicionar em relação à África, por exemplo? Como uma continuidade da política anteriormente aplicada por democratas e republicanos, semeando a discórdia e fornecendo armamento para que os africanos se matem?

Cynthia McKinney: Poder para o Povo

É em meio a confusão política que se instalou nos EUA que figuras como Steve Wonder declararam apoio publicamente a Obama. Por outro lado, o jornalista negro e Black Panther Mumia Abu-Jamal (para saber mais, clique aqui) e o cineasta Michael Moore saíram em defesa de uma candidata que não é citada no noticiário. Mumia afirmou, em texto recente escrito na prisão: “Não importa o que aconteça em breve ou continue acontecendo nos meios de comunicação, referindo-se a comitês eleitorais nos Estados Unidos. Não importa quem esses meios de comunicação irão apresentar como grandes "favoritos" a presidência, pelos Democratas e Republicanos, pois justiça e integridade nunca podem emanar de um sistema intrinsecamente injusto, amoral e hipócrita, como dos EUA. Além do mais, quando vemos os candidatos destes partidos, incluindo a candidatura de Barack Obama, lembramo-nos de um velho provérbio africano: ‘Cuidado com o homem nu que te oferece vestimentas’.” (clique aqui)

Cynthia McKinney está disputando a legenda do Partido Verde norte-americano, completamente ignorada pela mídia. Ela é o expoente máximo de uma Coalisão chamada Power to the Peple (Poder para o Povo). Em 2007, Cynthia foi co-presidenta na organização do Tribunal Internacional Sobre o Furacão Katrina, que concluiu pela condenação de Democratas e Republicanos como “responsáveis por crime contra a humanidade”, e pela cobrança de “apoio ao direito ao retorno” dos sobreviventes, “reparações pelas perdas” e “projeto público federal massivo de recuperação”.

Outro ponto em que a candidatura de Cynthia se destaca é a questão da guerra. Ela foi contra desde o primeiro momento: “Bush diz que valoriza a democracia, quando na realidade a despreza. A guerra é a única opção para aqueles que querem roubar os recursos naturais dos outros”, afirmou Cynthia.

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