sexta-feira, 18 de junho de 2010

MC Eiht, Kurupt e Dr. Dre: Lançamentos Quentes em Los Angeles



Dr. Dre



O veterano MC e produtor do NWA Dr. Dre soltou na internet uma 1ª versão do que "dizem" ser um single do tão aguardado álbum "Detox". A música chama-se "Under Pressure" e têm participação de Jay-Z, talvez o rapper do momento nos EUA. Eu particularmente esperava mais... De qualquer forma, clique na foto acima para ouvir.

MC Eiht


Se Dr. Dre têm deixado a desejar, meu rapper predileto continua a me encher de orgulho. Após lançar o volume 2 de sua recente mixtape "All Starz and Strapz" (confira release postado aqui), MC Eiht solta o videoclipe de "So Well", eleita faixa de trabalho inicial. Confira o video na imagem acima, este eu indico, pancada, não decepciona. Eiht está em turnê pela Europa no momento. Conforme apurei em sites gringos e já havia antecipado antes aqui mesmo, o álbum sólo do Eiht "Which Way is West" será produzido por DJ Premier (ex-GangStar). É aguardar para conferir. A mixtape já impressionou.

Kurupt


Outro trabalho que já foi bastante comentado por aqui e que saiu em videoclipe foi "Yessir", faixa do álbum "Streetlights", do integrante do  grupo Dogg Pound, o Kurupt. Esta música saiu na mixtape do DJ Drama "Gangsta Grillz" e foi produzida por nada mais, nada menos, que Pete Rock. Correm boatos de que Pete Rock estaria desenvolvendo um álbum com a dupla Dogg Pound. Este furo nós já havíamos antecipado... (leia aqui). Vale a pena conferir, ótimo som. Veja o video na imagem acima.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mano Brown e Jorge Ben no Fantástico



Falsas Polêmicas, Marketing, Racionais Mc's, CD Novo, Nike, Rede Globo e tudo mais...

Ontem o Fantástico exibiu um clipe do Jorge Ben Jor, com a participação de Mano Brown. A música é uma regravação de "Umbabaraúma - Ponta de Lança Africano", do clássico LP "África Brasil" (1976) de Jorge Ben. Será lançada hoje, na véspera do 1º jogo da seleção na Copa da África do Sul. O projeto foi patrocinado pela Nike e já corriam rumores a respeito da existência dele há um bom tempo. Veja o vídeo no final do post.

Os jornalistas de grandes veículos de comunicação torcem por um vacilo de Mano Brown, para decretarem sua capitulação diante da "grande mídia racista" que ele sempre criticou. É a hora da vingança para eles, os transmissores da ideologia racista e burguesa, que não gostam quando alguém questiona suas posições políticas de classe e raça em forma de "jornalismo neutro". Mano Brown está entalado na garganta deles desde que fechou as portas de seu camarim para todos eles na entrega do prêmio VMB (Video Music Brasil) de melhor videoclipe, na categoria da escolha popular, com a música "Diário de Um Detento". Lá se vão 12 anos...

A principal questão não é estar ou não nas grandes empresas de comunicação. A questão é como seremos tratados pelos meios de comunicação e nossa independência em relação à eles. A grande vitória do posicionamento crítico do Mano Brown foi o respeito e a crítica. Primeiro, porque ao fazer a crítica, Brown abriu os olhos de muitos (como eu...) para a manipulação dos grandes meios de comunicação, todos tendenciosos. É um segmento que funciona por concessão pública, mas não dá nenhum tipo de satisfação à sociedade, e toda vez que alguém toca no assunto "regulamentação", ouvem-se gritos contra a censura, vindos inclusive de Redes conhecidas por seu apoio à Ditadura no passado. É um campo dominado por meia dúzia de famílias que controlaram completamente a circulação da informação no país até recentemente, antes da abertura forçada de espaços promovida pela internet. Se o MV Bill é assediado pela Rede Globo e pode negociar com ela de forma digna é porque o Racionais Mc's botou o Sr. Roberto Marinho no lugar dele, lá atrás (com relação ao Rap, é claro...). É por isso que não fizeram do Rap paulista o que fizeram e fazem do Funk carioca.

O Mano Brown, o Racionais Mc's, ou qualquer outro grupo de rap, podem se expor nos grandes meios de comunicação de forma independente, em minha opinião. Desde que não mudem o discurso e a postura.

No ano passado, corri para as bancas de jornais para comprar a Revista Rolling Stone e ler a entrevista com o Brown. "Mano Brown Entre as Novas Idéias e o Velho Radicalismo", dizia a manchete. Muitos decretaram a capitulação: o Racionais Mc's não é mais o mesmo. Eu esperava o pior, mesmo que lá no fundo uma parte de mim não acreditasse, ou não quisesse acreditar... Sinceramente, não vi nada de novo na entrevista. Achei até que o entrevistador foi extremamente respeitoso. Foi uma exposição calculada e precisa, bem melhor que a famosa entrevista do Mano Brown ao Roda Viva para entrevistadores despreparados (exceção somente para a Maria Rita Kehl), onde eu achei que ele se colocou mal diante de algumas questões esdrúxulas. E o Brown que vimos, na Revista, no Roda Viva ou no Fantástico, foi o mesmo de sempre, lógico que com evoluções. Ele fez 40 anos este ano, está mais maduro, passou por transformações como qualquer outro ser humano. Mas não o vejo como um perdedor, como muitos tentam pregar. Pelo contrário. Olhem onde ele chegou. Muitos "produtos enlatados" que picam cartão nos Faustões e Gugus da vida não gozam do mesmo prestígio e respeito que ele.


A Nike, por sua vez, é uma empresa cujo marketing é muito antenado com o que está acontecendo no mundo. Foi na sua associação com a imagem de Michael Jordan, o maior jogador de Basquete de todos os tempos, do esporte mais popular nos EUA, que a empresa cresceu assombrosamente no mundo todo. Depois vieram outros: Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, etc. Se têm uma coisa que está acima do preconceito racial no capitalismo é, sem dúvida, a sede por lucro. Nada mais natural que o interesse da Nike pelo fenômeno Racionais Mc's, cujo ícone maior é Mano Brown. Só não reconhece a importância do Mano Brown no Brasil quem não quer...

A maioria dos jogadores de futebol são politicamente nulos, inclusive o maior deles, o Pelé. Aí, me desculpem, mas sou muito mais o Maradona. Têm atitude, pelo menos. Os brasileiros, quando abrem a boca, falam besteira. Dá pra comparar o Brown com estes caras? Aliás, acreedito sinceramente que o Brown estava se referindo a este processo quando fala de "leões com cabeça de bagre" na letra da sua participação em "Umbabaraúma".


A questão que fica pra mim é a seguinte: a Nike mudará o discurso e o posicionamento político do Racionais Mc's? Veremos no próximo álbum do grupo, em vias de sair... Eu acho muito difícil.

Se o discurso e a postura não vai mudar, bola pra frente, que o resto é mera publicidade gratuita...


Mano Brown não é mais o jovem vibrante e ingênuo que acreditava que mudaria o mundo com sua música. Nem o herói infalível que muitos elegeram no passado como o grande messias do rap, contra a própria vontada dele, que se tornou a maior vítima deste herói. Ele é humano. Sua maior mudança foi ter compreendido melhor este processo. Mas isto não diminui em nada seus feitos. Ele despertou a consciência de raça em milhões de jovens brasileiros de forma como o movimento negro nunca teria conseguido.

Agora, a raiva, a revolta, ainda estão lá. Elas são o motor do rap. Sem elas, o rap não é rap... Só que trabalhadas com uma poética diferente, num discurso renovado. Nós, fãs, podemos voltar a ouvir o "Escolha o Seu Caminho" novamente, ou o "Holocausto Urbano". Eu faço isto sistematicamente. Mas o que marcou o Racionais Mc's historicamente foi a renovação, de show em show, de disco em disco, um nunca igual ao outro. Que assim continue, sempre. Não vi nada que me envergonhe nas letras das últimas composições do Racionais Mc's. Talvez um machismo na letra de "Mulher Elétrica", uma tentativa mal sucedida de acertar as contas históricas com as mulheres. Mas daí a dizer que é uma música comercial... Me poupe. É um G.Funk clássico!


Muito do que dizem à respeito do Racionais Mc's é fruto de mera desinformação daqueles que não conhecem a história do grupo. Seja por parte de militantes que fizeram de Brown o porta voz de seus anseios mais radicais, atribuindo a ele responsabilidades que ele mesmo nunca buscou para si, colocando um discurso na boca dele que nunca foi o dele; seja por parte daqueles que querem promover uma mentira sobre uma guinada comercial, por mero golpe de marketing capitalista. O Racionais Mc's não precisa de uma guinada comercial, esta é a questão. Se eles não se venderam lá atrás, quando eram amadores, porque fariam isto agora que alcançaram a estabilidade financeira e profissional, correndo o risco de se perderem e caírem num ostracismo sem volta, como muitos outros no passado?

E mais, um recado aos conservadores de plantão da elite brasileira que se preocupa com os rumos do hip hop: o rapper que organiza sua Posse e suas atividades em sua quebrada; o DJ que faz seu programa na Rádio Comunitária; o grafiteiro ou a grafiteira que se expressam criticamente em seus trampos nos muros; todos eles continuarão lá, independentemente do que venha a acontecer com o Racionais Mc's. O hip hop já adquiriu esta maturidade.

Segue a matéria do Fantástico:


"Ponta de Lança Africano - Umbabaraúma"
Jorge Ben Jor e Mano Brown
Produção: DJ Zegon (Planet Hemp, N.A.S.A.) e por Daniel Ganjaman (Instituto)
Backing Vocals: Negresko Sis (Anelis Assumpção, Céu e Thalma de Freitas)
Participação: Pupilo (percussionista da Nação Zumbi)

Veja o video na íntegra aqui: YouTube. Vale a pena conferir.

domingo, 6 de junho de 2010

Zezão



Pensar no graffiti é pensar no contexto urbano das grandes metrópoles do mundo todo. Desde meados dos anos 70 e 80, quando os membros das gangues de NY deixavam suas Tags de demarcação nos muros dos guetos, até os primeiros Bomb's e Wild Style's, muita água passou debaixo da ponte do hip hop...

Qualquer mano (ou mina) que queira marcar presença nos dias de hoje se expressando através do graffiti deve levar em conta toda a história do hip hop. É todo um legado, uma tradição, que temos de defender.



Ruínas em Belo Horizonte

É impressionante constatar onde o graffiti chegou... e onde pode chegar. Os letreiros, que caracterizam a base do graffiti, são a forma mais clássica e pura, a essência da arte das latinhas de spray. Sempre será assim. Mas eles dividem espaço, agora, com novas criações, novas formulações que transcendem os fundamentos básicos do graffiti. Novas influências, novas propostas. Mas com o mesmo espírito que motivou os primeiros "desbravadores" de metrópoles que deixavam suas marcas nos metrôs de NY há uns 30 (!) anos atrás...

Acima, Zezão deixa sua marca no Bronx, gueto de NY City

Um passo atrás do outro, cada um cumpriu com seu papel histórico. E o momento agora é de evolução. Não no sentido de melhoria, como se as formas iniciais do graffiti fossem inferiores, até porque elas são mais atuais do que nunca e estão aí até hoje, com toda a força, mas evolução no sentido de transformação. Assim é o trampo do Zezão. Difícil de definir, mas, ao mesmo tempo, um trabalho inconfundível. Seu estilo, para aqueles que tomaram contato, é sua marca registrada.


Uma ironia do destino: ao mesmo tempo em que os pixadores disputam espaço de destaque no topo dos arranha-céus paulistanos, Zezão se destaca justamente num espaço sujo e obscuro, para onde ninguém quer olhar: as galerias de esgôto. Genial. É o reino do contraditório, em pleno sub-solo da cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo. A arte de Zezão convive com tudo aquilo que a cidade rejeita e não quer pensar a respeito. É no mínimo intrigante...

Graffiti em Paris

Paris

O que mais me impressiona no trampo do Zezão é a sua atualidade. Sua arte faz um diálogo com diversos dilemas de nossa sociedade: a preservação ambiental, a destinação do lixo, o crescimento desordenado das metrópoles. Seus "flops" (denominação dele para seus graffitis abstratos) azuis típicos contrastam com o contexto onde se inserem: são um toque de limpeza em meio à poluição, de paz em meio ao caos do abandono. Uma forma de chamar a atenção da sociedade para o que temos à nossa volta.

É legal ver um militante do hip hop com espaço de exposição na mídia não fazer feio. Isto é fundamental. Mais do que isto, mantendo os pés no chão, sem perder os vínculos com a rua.

Paris


Passamos todos os dias diante de uma série de lugares, que possuem muito para nos dizer: sobre nós, sobre nossa sociedade, sobre a vida no séc. XXI de um modo geral... Vivemos num mundo caótico, sem muitas vezes pensar nisso. O cidadão paulista, o mesmo que elegeu o "Rei do Cinza", transita todos os dias na marginal, fecha o vidro e vai embora... O trabalho do Zezão está obrigando os caras a abrir os vidros. Isto é fundamental se quisermos repensar o mundo em que vivemos.


O graffiti do Zezão parece o dedo do garoto na história da roupa nova do rei, a denunciar "o rei está nu!". Talvez por isto tenha chamado a atenção dos mais antenados e sensíveis artistas plásticos, acadêmicos, designers, arquitetos, etc. Toda essa gente se acotovela para abrir o Flickr do Zezão e olhar, mesmo que indiretamente, para o esgôto.


Me orgulho que o responsável por tal feito seja um cara do hip hop. Mas não me surpreende. Quem duvidou, aguarde, pois iremos ainda mais longe, com certeza. Afinal, um artista plástico que respira os ares "chic's" das galerias de arte, nunca iria respirar o cheiro fétido de bosta das galerias de esgôto...

Taí um cara que fez por merecer e representa o hip hop com muita dignidade. Os espaços estão aí, disponíveis à todos aqueles que batalharem por eles, de forma qualificada e honesta. Para todos aqueles que têm algo a dizer, e com originalidade.



Fonte das imagens: Flick do Zezão

Os trabalhos não-sinalizados são de galerias, ruínas ou córregos de São Paulo/SP. Para este post, coladorou Aliada Ci (www.aliadaci.blogspot.com)