"Uma casa de hip hop na Lapa equivale a implantar um McDonald’s na Albânia. Tenho fé em que a secretária Jandira, albanesa de coração, não levará adiante esse absurdo. Além disso, como médica, ela sabe que o hip hop faz mal à saúde."
Fala de Ruy Castro, comentando notícia sobre a possível criação de uma Casa do Hip Hop na Lapa, tradicional reduto do Samba carioca.
“Não gosto de hip hop… Ou melhor, não tenho ouvido, está muito chato. Mas adoro cultura de rua. Agora, se essa casa for para receber caras com camisa de time de basquete americano e cordão de ouro tô fora. Hoje existe hip hop árabe, indiano, e cada um tem que se adaptar à sua cultura. O Brasil bomba na música, então por que ficar imitando os gringos?”
Marcelo Yuka, baterista da banda F.U.R.T.O. (ex-Rappa), sobre o mesmo assunto.
O escritor de biografias Ruy Castro expressou recentemente, sem nenhum pudor, como a intelectualidade brasileira encherga o hip hop. Jogou o movimento na vala comum dos enlatados norte-americanos, ridicularizando-o.
O hip hop é uma cultura que veio de baixo, feita por excluídos (negros e latinos), cujas origens mais longínquas remontam à África (alguma semelhança com o samba cara-pálida?) e a Jamaica. A roda de break, por exemplo: será mera coincidência que a capoeira e o samba também lancem mão deste recurso? O rap: alguma semelhança com o repente ou a embolada, enquanto canto falado? Se o problema é a origem, tanto Ruy quanto Marcelo estão desinformados.
O que os militantes do hip hop estão fazendo hoje no Brasil é equivalente ao que sambistas fizeram outrora: resistindo e verbalizando um protesto através da música. Da mesma forma que existem sambistas de raiz produzindo bom samba no país, nem todo mundo no rap é um Eminem da vida. Aliás, a maior contribuição do hip hop brasileiro foi a prevalência da postura militante em detrimento da adesão norte-americana ao mainstream. Mesmo entre os grupos mais populares. Mais importante do que qualquer "pureza" estética (isso é possível?) livre de influências externas são os valores.
Aliás, o reggae da banda O Rappa, cujo principal fundador é justamente o Marcelo, surgiu onde mesmo? No Rio de Janeiro por acaso?
A estética do hip hop é a expressão de valores, de identidade. Porque os hip hoper's usam camisas de times de basquete (ou de futebol, o que é muito mais comum no Brasil) e não terno e gravata?
Assim como nem tudo que vêm de fora deve ser jogado na lata do lixo sem qualquer reflexão ou critério, nem tudo que é produzido aqui dentro deve ser necessariamente valorizado. Nossa cultura é rica o bastante para não ser descaracterizada pela cultura "externa", embora nunca esteja livre de influências, ainda mais na era da internet. Isto não necessariamente é ruim... A questão é como assimilamos estas influências externas.
O problema é que, na ânsia por garantir uma reserva de mercado, aqueles que posam de defensores da cultura brasileira, acabam por defenderem interesses extremamente reacionários. Uma pena, ainda mais para uma pessoa com a história do Marcelo Yuka.
O que faz mal à saúde no Brasil é a desinformação...
Leia mais aqui.
Fala de Ruy Castro, comentando notícia sobre a possível criação de uma Casa do Hip Hop na Lapa, tradicional reduto do Samba carioca.
“Não gosto de hip hop… Ou melhor, não tenho ouvido, está muito chato. Mas adoro cultura de rua. Agora, se essa casa for para receber caras com camisa de time de basquete americano e cordão de ouro tô fora. Hoje existe hip hop árabe, indiano, e cada um tem que se adaptar à sua cultura. O Brasil bomba na música, então por que ficar imitando os gringos?”
Marcelo Yuka, baterista da banda F.U.R.T.O. (ex-Rappa), sobre o mesmo assunto.
O escritor de biografias Ruy Castro expressou recentemente, sem nenhum pudor, como a intelectualidade brasileira encherga o hip hop. Jogou o movimento na vala comum dos enlatados norte-americanos, ridicularizando-o.
O hip hop é uma cultura que veio de baixo, feita por excluídos (negros e latinos), cujas origens mais longínquas remontam à África (alguma semelhança com o samba cara-pálida?) e a Jamaica. A roda de break, por exemplo: será mera coincidência que a capoeira e o samba também lancem mão deste recurso? O rap: alguma semelhança com o repente ou a embolada, enquanto canto falado? Se o problema é a origem, tanto Ruy quanto Marcelo estão desinformados.
O que os militantes do hip hop estão fazendo hoje no Brasil é equivalente ao que sambistas fizeram outrora: resistindo e verbalizando um protesto através da música. Da mesma forma que existem sambistas de raiz produzindo bom samba no país, nem todo mundo no rap é um Eminem da vida. Aliás, a maior contribuição do hip hop brasileiro foi a prevalência da postura militante em detrimento da adesão norte-americana ao mainstream. Mesmo entre os grupos mais populares. Mais importante do que qualquer "pureza" estética (isso é possível?) livre de influências externas são os valores.
Aliás, o reggae da banda O Rappa, cujo principal fundador é justamente o Marcelo, surgiu onde mesmo? No Rio de Janeiro por acaso?
A estética do hip hop é a expressão de valores, de identidade. Porque os hip hoper's usam camisas de times de basquete (ou de futebol, o que é muito mais comum no Brasil) e não terno e gravata?
Assim como nem tudo que vêm de fora deve ser jogado na lata do lixo sem qualquer reflexão ou critério, nem tudo que é produzido aqui dentro deve ser necessariamente valorizado. Nossa cultura é rica o bastante para não ser descaracterizada pela cultura "externa", embora nunca esteja livre de influências, ainda mais na era da internet. Isto não necessariamente é ruim... A questão é como assimilamos estas influências externas.
O problema é que, na ânsia por garantir uma reserva de mercado, aqueles que posam de defensores da cultura brasileira, acabam por defenderem interesses extremamente reacionários. Uma pena, ainda mais para uma pessoa com a história do Marcelo Yuka.
O que faz mal à saúde no Brasil é a desinformação...
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