terça-feira, 15 de dezembro de 2009

OSGEMEOS no Roda Viva



Os irmãos Gustafo e Rodolfo Pandolfo, mais conhecidos mundialmente como "osgemeos" estiveram, agora à pouco, no Roda Viva, da TV Cultura. O progama vai ao ar em reprise no Domingo, dia 20 de dezembro. A dupla já ocupou, com sua arte contemporânea, a Galeria Fortes Vilaça (SP - Brasil) e a Deitch Projects Gallery (NY - EUA), que representa Keith Haring e Jean-Michel Basquiat, artistas que também se notabilizaram pelo diálogo com o graffiti e a cultura hip hop. Digo arte contemporânea porque, conforme os irmãos definem, o graffiti só existe enquanto tal se feito na rua.

O trabalho que eles desenvolvem nas galerias é mais amplo e pode ser definido como arte plástica, ou arte contemporânea. Isto, em minha opinião, é uma boa forma de os artistas, que optaram por frequentar os meios de comunicação de massa, lutarem pela manutenção da essência da cultura hip hop, sem que ela se banalize ou se descaracterize. Eles são, em minha opinião, um bom exemplo de militantes do hip hop que sabem usar a mídia para se promoverem. Mesmo estando muito distantes do hip hop, como eles mesmos admitem, é nítido o respeito pela cultura. São artistas que não nos fazem passar vergonha quando estão sob os holofotes. Outros fizeram papelões, sendo vendidos até à exaustão como se fossem enlatados e depois sumindo, mudando radicalmente de postura ideológica ou até mesmo mostrando uma fragilidade cultural e até uma certa inocência ignorante. Viraram piada no Jô ou no Faustão, motivo de escárnio...


Aliás, outro que me impressionou com sua postura foi o Zezão. Mas este merece um outro post... Estou devendo, admito.

Estou entre aqueles que ainda acreditam no hip hop pelos seus elementos ligados uns aos outros, unidos e dialogando numa cultura de rua. Muitos que ganharam destaque abandonaram as outras linguagens, como se a sua linguagem (não importa se o graffiti, o rap, etc.) fosse única e independente. Outros chegam até a desvirtuar a história: já ouvi por aí pessoas afirmando que o rap não faz parte da cultura hip hop... Absurdos à parte, embora esteja muito longe da realidade das grandes galerias - e não me preocupo muito com isto, na verdade... - sinto muito orgulho destes caras. Souberam usufruir dos benefícios que a fama lhes trouxe com serenidade, sem jogar na lata do lixo a história de muitos, construída com "suor e sangue", e preservando com respeito o espaço daqueles que estão nas ruas desenvolvendo seus trampos e perpetuando a cultura hip hop.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Andrade: 1º Negro "Assumido" a ser Campeão Brasileiro como Técnico



De forma absolutamente discreta, Andrade conquistou seu 6º título de campeão brasileiro. Ele foi campeão 4 vezes com o Flamengo (1980, 1982, 1983 e 1987) e 1 vez pelo Vasco em 1989. Todos como jogador. Agora, Andrade torna-se o 1º treinador assumidamente negro (recuso-me a aceitar que Luxemburgo seja branco, ou qualquer outra coisa que seja...) a se sagrar campeão brasileiro. O mais importante, no fato, é a postura do técnico, muito serena, como sempre: Andrade já tinha ressaltado, em entrevistas, a dificuldade de um negro ocupar um cargo de treinador numa das principais equipes brasileiras. Vivemos num país que demorou muito a admitir os negros enquanto jogadores - até o Pelé sofreu com a discriminação, o que não aceitou ainda nos espaços da comissão técnica, salvo exceção de massagistas e roupeiros....

Em nosso país, a não muito tempo atrás, entendia-se, de forma equivocada (como a própria Ciência provou...), que o branco era a forma mais evoluída do homem, enquanto o negro, a mais atrasada, inclusive estando próximo ao macaco numa excala evolutiva. Um absurdo... Historicamente, como forma de justificar a escravidão, pregava-se que o negro possuía aptidão física mais desenvolvida que o branco, o que o permitia trabalhar na "lida" com maior desempenho e legitimava sua posição de escravo. O branco, por sua vez, possuiria dotes intelectuais mais avançados em relação ao negro. Esta visão, preconceituosa, ainda possui raízes fortes em nossa cultura, mesmo nos dias atuais, em pleno séc. XXI. Prova disto é a dificuldade de aceitação dos negros em papéis de direção, onde o trabalho possui um viés mais intelectualisado, como no caso dos treinadores. Ano passado o Boston Celtics foi campeão da NBA com um treinador negro: Doc Rivers. Fato raro também. Este ano, foi Andrade que igualou o feito aqui no Brasil.

Interessante notar a dificuldade que a mídia têm de absorver o fato com naturalidade. A Rede Globo e seu sistema (SporTV's, etc.), como baluarte do Brasil onde "não somos racistas", fica sempre em situação desconfortável num momento destes. Para as grandes redes de comunicação, Andrade foi vitorioso pela sua humildade. Nunca por qualquer característica que demonstre inteligência. Incrível acreditarmos que um técnico de futebol possa ganhar um título tão disputado como o da Série A do brasileiro, dirigindo uma equipe do futebol carioca financeiramente falido, recuperando velhos medalhões, mesclados com ilustres desconhecidos, com apenas humildade, sem nenhum mérito tático ou estratégico... Acredite quem quiser...

Parabéns ao Andrade e que ele possa estar abrindo as portas para outros.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Robin Wiliams e o Estereótipo do Brasil

Ontem, em uma entrevista ao talk show de David Letterman - um entrevistador norte-americano de quem o Jô Soares copiou seu programa - o ator Robin Williams fez uma piada infeliz, que mostra bem o estereótipo de nosso país lá fora. Ele brincou dizendo que enquanto os EUA tinham mandado Michele Obama e Oprah Winfrey para a disputa que definiu a sede das Olimpíadas, o Brasil mandou 50 stripper's e 1 kg de cocaína. Engraçado é que, o próprio país dele (os EUA), é o maior consumidor de drogas do mundo, e que o Brasil é apenas uma porta de saída daquilo que é produzido em outros paíse da América Latina. Aliás, os próprios norte-americanos são clientes assíduos e colaboradores do turismo sexual brasileiro: afinal, o turismo sexual existe porque existem pessoas dispostas a pagar por ele... Por fim, é uma grande contradição que uma pessoa que fez tratamentos e terapias em função do vício em cocaína faça uma brincadeira preconceituosa como esta...
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É justamente no humor, terreno do politicamente incorreto, que muitos deixam transparecer seus preconceitos, de forma que não o faríam em outro momento de seriedade, onde as pessoas se policiam.