Tive a honra de frequentar o Nifama, um clube tradicionalíssimo de Campinas, onde tocavam W Sigilo (Sistema Negro), DJ O.G. (o Necão, do Visão de Rua na época), Kid Nice (Sistema Negro), DJ Master Jay (Ststema Negro), entre outros. Lá não tinha "Lomba-Lomba". Só o "cream de la cream", a "nata" do rap frequentava o local. De lá saiu toda uma geração. Ninguém ia à escola nas quintas-feiras. Vi nascer o Visão de Rua lá...
Me lembro do programa "Mr. Rap", que tocava a faixa "Confidências de Uma Presidiária" todos os dias. De um concurso no Nifama saiu a coletânea "Rap is Rap", pela Nosso Som/Discool Box. Nesta coletânea estava presente o Facção Central, também despontando, além do Visão de Rua.
Na primeira formação do grupo, a melhor em minha opinião, estavam Tum e DJ O.G., além da Dina Di. Esta formação durou até o "Herança do Vício". Depois, Dina Di gravou umas paradas sozinha. No "Ruas de Sangue", Lia entra no lugar de Tum. Em "A Noiva do Thock" (meu preferido), sai também o DJ O.G. e a Lia e Dina já está em São Paulo. No álbum "O Poder nas Mãos", o último, Dina Di abandona o próprio nome Visão de Rua e se coloca como Dina Di sólo pra valer.
A história de Viviane, a Dina Di, é uma história de luta, acima de tudo. Tenho orgulho dela ter se projetado aqui em Campinas. As histórias em Campinas, a saída de Campinas em busca de um recomeço, a distância do filho, a prisão do Thock (o marido)... O rap dela nunca foi de "meias verdades". Ela cantava o que era. Ironicamente, uma rapper que abordava como ninguém a condição da mulher em nossa sociedade, morre num parto de infecção. Como disse uma mulher que não se identificou num comentário abaixo, no post anterior, nem parece que estamos em pleno séc. XXI.
O álbum "A Noiva do Thock" marcou um momento importante de minha vida. É um trabalho impressionante, que aborda temas sentimentais sem ser piegas ou demagógico. Fala dos dramas de quem está por aí, na correria. Impossível não se identificar. Minhas filhas ouvem e gostam, se identificam desde cedo. Conhecem as letras. É de arrepiar. Isto sem falar em outros clássicos, como "Mente Engatilhada", que eu ouvi até quase furar o disco.
Mas Dina Di deixa um legado. Foi a primeira mulher a abordar temas como o sistema penitenciário feminino (Confidências de Uma Presidiária); a violência doméstica (Dormindo com o agressor); a situação de mulheres que têm maridos presos (A Noiva do Thock e Do Lado de Fora da Muralha); e a exposição do corpo feminino na mídia (Corpo em Evidência), entre outros... Poderia ter tido mais espaço. Merecia mais reconhecimento. Fica os parabéns aos que sempre reconheceram o seu talento, como Kid Nice e DJ KL Jay.
No dia 26 de novembro de 2009, no Canecão, a MC recebeu o prêmio Hutuz (Organizado pela CUFA/MV Bill) de maior cantora de rap do séc. XXI das mãos da cantora Marina Lima e da jogadora Ana Paula.
Ela já havia ganho o Prêmio Hutuz de melhor grupo de rap feminino em 2000 e 2001. Em 2003 Dina Di foi indicada para 3 categorias: melhor música (A Noiva do Thock), melhor grupo ou artista solo e melhor album. As faixas "Corpo em Evidência", "Amor e Ódio" e "A Noiva do Thock" ficaram entre as mais tocadas no programas de rádio especializados em rap.
Seus filhos e seu marido vão ter sempre de quem se orgulhar. Dina Di foi mais uma brasileira que tinha tudo para dar errado, mas teimava em dar certo, até o fim. Literalmente. Descanse em paz - R.I.P. Dina Di!
LUTO!
Homenagem a Dina Di, a maior expressão feminina do rap brasileiro. Aqui seguem os álbuns de estúdio (4) e as participações em coletâneas (as mais relevantes, em minha opinião).
1995
Confidências de Uma Presidiária (1995)
Coletânea "Nosso Som é: Rap is Rap"
1996
Periferia é o Alvo (1996)
Single c/ participação e produção de Kid Nice (Sistema Negro)
1998
Herança do Vício (1998)
1 º Álbum de Estúdio
2000
Mente Engatilhada (2000)
Coletânea "KL Jay na Batida Vol. 2"
(produção de KL Jay - Racionais Mc's)
Filho (2000)
Coletânea "Brazil 1: Escadinha, Fazendo Justiça com as Próprias Mãos"
2001
Ruas de Sangue (2001)
2º Álbum de Estúdio
2003
A Noiva do Thock (2003)
3º Álbum de Estúdio
2004
Dormindo com o Agressor (2004)
Coletânea "Microfone Aberto"
(produção de KL Jay - Racionais Mc's)
2008
O Poder nas Mãos (2008)
4º Álbum de Estúdio