sábado, 27 de março de 2010

Dexter e GOG na P-1



Estive ontem na P-1 (Penitenciária de Regime Semi-Aberto do Complexo Campinas-Hortolândia). A P-1 possui capacidade para 538 presos. Atualmente, abriga 1439. Muitos deles ("duzentos e pouco") estão entre os 700 reeducandos que prestam serviços à Prefeitura de Campinas. Lá está o Dexter, criador do 509 E.

Participei de uma atividade cultural que reuniu teatro, samba, capoeira e, é claro, hip hop. É impressionante o apelo que o hip hop, particularmente o rap, possui entre os sentenciados. Estava lá também o Gog. Foi um dia emocionante, em todos os aspectos. Não somente pela oportunidade que tive de ver Gog e Dexter, dois rappers que eu curto muito, mas pela oportunidade de conhecer de perto a realidade do sistema carcerário brasileiro.

Da esquerda: Claudinho, Gog, Elemento, Leandro e Tim. Em baixo: Eduardo.

Para quem não têm notícias do Dexter, ele está bem (dentro dos limites do que é possível, pois ninguém está "bem" numa cadeia). Saudável (físicamente e emocionalmente), muito equilibrado e consciente, ansioso pra sair. Ele é uma referência lá dentro para os mais novos: ouvi isto diretamente de um parceiro que está no mesmo "barraco" que ele. Dexter me disse que prepara um novo trampo, logo vem aí mais um CD. Possui ainda cerca de 3 anos para cumprir, isto se seus advogados não conseguirem reverter sua situação atual. Ficaremos na torcida. Se ele conseguir trabalhar, já que está no regime semi-aberto, poderá obter remissão de 1 dia para cada 3 dias trabalhados, o que também poderá diminuir sua pena...

Dexter cantou "Saudades Mil" e quase não dava para ouvir sua voz, pois o coro foi muito forte. Cada detento que estava ali cantou a musica como se fosse a sua verdade mais absoluta. Foi uma boa oportunidade de quebrar a rotina da cadeia e de desabafar. Todos estão de parabéns: o Dexter, o Gog, o parceirão Claudinho, enfim, todos que estavam ali presentes, lutando por melhorias no sistema penitenciário e levando cultura até os presos. Infelizmente não pude tirar fotos lá dentro, junto com o Dexter. Parabéns à direção do presídio e à Funap, que se mostraram sensíveis e viabilizaram o evento. Foi muito louco, de arrepiar...

sábado, 20 de março de 2010

O Rap Está de Luto: Dina Di





Tive a honra de frequentar o Nifama, um clube tradicionalíssimo de Campinas, onde tocavam W Sigilo (Sistema Negro), DJ O.G. (o Necão, do Visão de Rua na época), Kid Nice (Sistema Negro), DJ Master Jay (Ststema Negro), entre outros. Lá não tinha "Lomba-Lomba". Só o "cream de la cream", a "nata" do rap frequentava o local. De lá saiu toda uma geração. Ninguém ia à escola nas quintas-feiras. Vi nascer o Visão de Rua lá...

Me lembro do programa "Mr. Rap", que tocava a faixa "Confidências de Uma Presidiária" todos os dias. De um concurso no Nifama saiu a coletânea "Rap is Rap", pela Nosso Som/Discool Box. Nesta coletânea estava presente o Facção Central, também despontando, além do Visão de Rua.

Na primeira formação do grupo, a melhor em minha opinião, estavam Tum e DJ O.G., além da Dina Di. Esta formação durou até o "Herança do Vício". Depois, Dina Di gravou umas paradas sozinha. No "Ruas de Sangue", Lia entra no lugar de Tum. Em "A Noiva do Thock" (meu preferido), sai também o DJ O.G. e a Lia e Dina já está em São Paulo. No álbum "O Poder nas Mãos", o último, Dina Di abandona o próprio nome Visão de Rua e se coloca como Dina Di sólo pra valer.

A história de Viviane, a Dina Di, é uma história de luta, acima de tudo. Tenho orgulho dela ter se projetado aqui em Campinas. As histórias em Campinas, a saída de Campinas em busca de um recomeço, a distância do filho, a prisão do Thock (o marido)... O rap dela nunca foi de "meias verdades". Ela cantava o que era. Ironicamente, uma rapper que abordava como ninguém a condição da mulher em nossa sociedade, morre num parto de infecção. Como disse uma mulher que não se identificou num comentário abaixo, no post anterior, nem parece que estamos em pleno séc. XXI.

O álbum "A Noiva do Thock" marcou um momento importante de minha vida. É um trabalho impressionante, que aborda temas sentimentais sem ser piegas ou demagógico. Fala dos dramas de quem está por aí, na correria. Impossível não se identificar. Minhas filhas ouvem e gostam, se identificam desde cedo. Conhecem as letras. É de arrepiar. Isto sem falar em outros clássicos, como "Mente Engatilhada", que eu ouvi até quase furar o disco.

Mas Dina Di deixa um legado. Foi a primeira mulher a abordar temas como o sistema penitenciário feminino (Confidências de Uma Presidiária); a violência doméstica (Dormindo com o agressor); a situação de mulheres que têm maridos presos (A Noiva do Thock e Do Lado de Fora da Muralha); e a exposição do corpo feminino na mídia (Corpo em Evidência), entre outros... Poderia ter tido mais espaço. Merecia mais reconhecimento. Fica os parabéns aos que sempre reconheceram o seu talento, como Kid Nice e DJ KL Jay.

No dia 26 de novembro de 2009, no Canecão, a MC recebeu o prêmio Hutuz (Organizado pela CUFA/MV Bill) de maior cantora de rap do séc. XXI das mãos da cantora Marina Lima e da jogadora Ana Paula.

Ela já havia ganho o Prêmio Hutuz de melhor grupo de rap feminino em 2000 e 2001. Em 2003 Dina Di foi indicada para 3 categorias: melhor música (A Noiva do Thock), melhor grupo ou artista solo e melhor album. As faixas "Corpo em Evidência", "Amor e Ódio" e "A Noiva do Thock" ficaram entre as mais tocadas no programas de rádio especializados em rap.

Seus filhos e seu marido vão ter sempre de quem se orgulhar. Dina Di foi mais uma brasileira que tinha tudo para dar errado, mas teimava em dar certo, até o fim. Literalmente. Descanse em paz - R.I.P. Dina Di!

LUTO!

Homenagem a Dina Di, a maior expressão feminina do rap brasileiro. Aqui seguem os álbuns de estúdio (4) e as participações em coletâneas (as mais relevantes, em minha opinião).

1995



Confidências de Uma Presidiária (1995)
Coletânea "Nosso Som é: Rap is Rap"
1996



Periferia é o Alvo (1996)
Single c/ participação e produção de Kid Nice (Sistema Negro)
1998



Herança do Vício (1998)
1 º Álbum de Estúdio
2000



Mente Engatilhada (2000)
Coletânea "KL Jay na Batida Vol. 2"
(produção de KL Jay - Racionais Mc's)



Filho (2000)
Coletânea "Brazil 1: Escadinha, Fazendo Justiça com as Próprias Mãos"
2001



Ruas de Sangue (2001)
2º Álbum de Estúdio
2003



A Noiva do Thock (2003)
3º Álbum de Estúdio
2004



Dormindo com o Agressor (2004)
Coletânea "Microfone Aberto"
(produção de KL Jay - Racionais Mc's)
2008


O Poder nas Mãos (2008)
4º Álbum de Estúdio

Hip Hop de Luto: Morre Dina Di



A rapper de Campinas Dina Di morreu nesta madrugada. Após dar a luz a sua filha Aline em 2 de março, Dina Di, a Viviane, contraiu uma infecção hospitalar que evoluiu para uma infecção generalizada. Dina Di foi enterrada no Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo. Ficam os nossos sentimentos em relação aos familiares e fãs. Independente de sua partida, fica a sua obra, acima de tudo. Pra mim, a maior rapper brasileira de todos os tempos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Estética Urbana: Protestos Contra o Cinza do Kassab


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Um grupo de pixadores* atropelou, nesta madrugada, um muro da 23 de maio onde está exposto um trampo da dupla "osgemeos". Os irmãos ainda não se pronunciaram sobre o caso. Nos pixos, palavras de ordem contra Kassab e a Prefeitura de São Paulo, além da inscrição "200 mil", valor que atribuem ao custo do trabalho feito pelos grafiteiros.

Via de regra, existe uma política de boa vizinhança entre grafiteiros e pixadores. Quando este pacto se rompe, geralmente existe alguma desavença específica por trás. Neste caso, onde um grupo se organizou para protestar contra a Prefeitura (que têm espalhado sua "política do cinza", apagando graffitis), acabou sobrando para a dupla "osgemeos" também. Segundo informações que circulam na grande mídia, o grupo é o mesmo das intervenções na Bienal e no Centro de Belas Artes. Me parece que a imprensa brasileira quer jogar tudo no mesmo balaio, até como tática para dividir o movimento.


A mesma Avenida 23 de maio (muro da foto acima) já havia sido palco para um grupo de 150 grafiteiros e pixadores em setembro do ano passado. Entre os graffitis, haviam pixos "fora kassab" e "apaguem os problemas da cidade". Antes disso, o muro já havia sido pintado de cinza numa ocasião, quando a Prefeitura apagou "por engano" um trampo feito pela dupla "osgemeos". No ano passado, uma nova ação da Prefeitura deixou o muro cinza novamente, desta vez respeitando a alça de acesso onde estavam novos graffitis feitos pela dupla "osgemeos". Desta vez, o protesto não poupou nem o trampo da dupla, atravessado pelos pixadores.

É um bom debate a ser feito: que padrão estético interessa aos grandes centros urbanos. Muitos rejeitam o pixo (o graffiti já vêm sendo mais aceito...) como se o amontoado de prédios e muros cinzas manchados de fumaça fossem a última maravilha estética. Mesmo a poluição visual dos anúncios e propagandas, geralmente, é feita de forma desordenada e sem critérios.


O graffiti acima, de autoria de "osgemeos", foi apagado. Nunca mais será visto nas ruas de São Paulo...

Outra questão a ser pensada é o mundo da arte em si: este precisa urgentemente passar por uma completa revolução! Quem legitima a arte? Quem diz o que entra ou não numa galeria? Mais do que isto, quem consome e paga caríssimo por uma obra somente porque é moda ou é um bom investimento (aff...) financeiro do ponto de vista do mercado? Pra que serve a arte? São questões a serem pensadas...

Os pixadores, assim como os grafiteiros, precisam ter a clareza de quem são seus verdadeiros inimigos. Do contrário, ações como esta podem cair na banalidade, mesmo no meio underground, entre aqueles que estão nas ruas. O protesto só vale se feito com um objetivo, do contrário é rebeldia sem causa, totalmente despolitizada. Se bombardeamos uns aos outros, através de "fogo amigo", quem se beneficiará com isto será a elite conservadora, que hoje dirige São Paulo através do prefeito Kassab (DEM) e sua política "cidade limpa".

Na foto acima, a 23 de maio cinza do prefeito Kassab (DEM).

Acredito que a onda de intervenções que os pixadores vêm realizando na capital paulista têm o mérito de estar pautando um debate e uma reflexão importante. O perigo é a banalização. Existe um risco, a ser evitado, que é a perda da direção dos movimentos. São ações que estão no limite entre um protesto organizado e politizado, e uma mera rebeldia juvenil. Num movimento de protesto, existem pessoas que se mobilizam pelo ibope, pela adrenalina, outros pela crítica, pelo protesto. Estes últimos é que devem estar a frente do processo, até para que suas miras se voltem para o alvo certo.

*Obs.: Uso pixo com "x" por ser esta uma grafia usada pelos pixadores, pois demarca uma diferenciação com outras formas de pichação (política, punk, etc.).

domingo, 14 de março de 2010

DEMOcratas Contra as Cotas...



Eles eram o ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o partido que dava sustentação política à Ditadura Militar. Depois, formaram o PDS (do Maluf, etc.). Depois, numa cisão, criaram o PFL e foram base de sustentação do PSDB em todas as falcatruas que aprontaram com o país (como as privatizações...). Depois, como um bandido que muda seu nome para se esconder seu passado da polícia, se tornaram o DEM (Democratas). O DEM reúne o que há de pior na política brasileira: os ruralistas, velhos coronéis da política, matadores de Sem-Terra. O senador DEMóstenes Torres expressou bem o pensamento desta escória política: disse esta semana que os estupros cometidos contra as negras escravas nas senzalas, nossas antepassadas, aconteceu com a "conivência" e "permissão" delas. Disse também que o tráfico negreiro é "responsabilidade" dos negros, pois a África se "desenvolveu economicamente" com ele". O DEM é contra a reserva de vagas em Universidades Federais, debate que vêm sendo travado no Supremo Tribunal Federal. Roberta Kauffmann, advogada dos DEMOcratas, foi orientada pelo ministro Gilmar Mendes, em seu mestrado sobre políticas afirmativas nas Universidades brasileiras. Ou seja, uma ex-pupila do supremo senhor do STF.

Pense bem antes de votar nas próximas eleições...