segunda-feira, 12 de julho de 2010

Erykah Badu e Lauryn Hill no Brasil




O Credicard Hall soltou em seu twitter (@credicardeshow) um post anunciando a vinda ao Brasil de duas divas da black music: Erykah Badu e Lauryn Hill. Duas das mais respeitáveis artistas da cena hip hop.


Lauryn Hill


Lauryn Hill está confirmadíssima: estará por estas bandas em setembro. Passará por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Florianópolis. Prepare o seu bolso, pois o ingresso mais barato em São Paulo não sairá por menos de 100 mangos. É lamentável, mas os artistas de hip hop norte-americanos que visitam o Brasil tocam pra playboys em casas chiques. E os militantes do movimento daqui, que vivenciam o rap 24 hrs. por dia, ficam de fora da festa, no máximo vendo pela vitrine... Às vezes, me sinto meio cachorro de padaria.

De fato, não nos profissionali-zamos, por aqui. Este foi o preço a ser pago por não aderirmos acriticamente ao "mainstream". Por lá, os criadores do rap não vacilaram e foram para a mídia. Ficaram milionários. Mas, seus discursos ficaram adocicados... Será possível pensar num meio termo?

Vi, em recente aparição do Mano Brown no programa Manos e Minas da TV Cultura, uma entrevista onde o rapper do Capão e do Racionais MC's falava sobre isto: "tocar nas grandes casas noturnas de São Paulo não é uma conquista. Conquista será quando tivermos nossas próprias casas na periferia..."

Enquanto isto não acontece, vamos lá, juntar nossas moedinhas...

Erykah Badu


Já Erikah Badu segue sendo uma incógnita. Embora sua presença tenha sido divulgada via twitter, na sua agenda oficial não consta uma visita ao Brasil: seus shows confirmados vão até 14 de agosto, quando ela estará em Atlanta. Na programação oficial do Credicard Hall, onde constam shows de setembro (como o da Lauryn), não consta nada sobre a vinda de Erikah Badu em agosto (ela estaria aqui no dia 29...).

O último álbum da Erykah, do início deste ano, "New Amerykah. The Return of the Ankh", promete ser o 2º de uma trilogia. Este álbum foi marcado pela cena de nu exibida por Erykah Badu no vídeo "Window Seat". No clipe, Erikah caminha por Dallas, se despindo, e cai após um disparo no exato local onde John F. Kennedy foi assassinado. Segundo ela, "foi uma homenagem ao democrata, um político revolucionário, e uma forma de chamar a atenção para a reflexão sobre a exposição da qual muitas vezes somos vítima". Clique aqui e veja. Faça seu próprio julgamento. Polêmicas à parte, o álbum tem muito conteúdo. Se o nu foi ou não uma estratégia de marketing (eu até acho que foi...), o fato é que ele está dentro de um contexto artístico, servindo a um propósito que vai além do marketing. Não é uma simples exposição do corpo da mulher como "mercadoria", com insinuações sexuais...

Se quiser saber mais e souber inglês, aventure-se pela entrevista que ela deu ao DJ de jazz Gilles Peterson em seu programa na BBC, Giant Sleep, regada com boa música.


O primeiro álbum da trilogia New America era um tanto mais tenso, com discursos políticos e pregações islâmicas. Este 2º título também trás todas as marcas da Erykah, com suas viagens pelo soul, pelo jazz e, claro, pelo hip hop. Mas o estilo que predominou em diversas faixas foi o r&b tradicional. Lembra um pouco "On & On". Isto talvez torne o álbum mais digerível ao público em geral do que outras gravações anteriores. Esta é uma cantora que sempre me intrigou com seus timbres jazzísticos, seus ares misteriosos, místicos desde a época do "Baduizm". Este último álbum é uma boa forma de alguém que não a conhece começar a ouvi-la.


Erykah Badu possui personalidade, num mundo recheado de "fabricações pop" falsificadas. Mais do que música, carrega consigo toda uma proposta estética que é um mergulho às raízes negras. Sua sofisticação faz bem à cena hip hop, com certeza. Uma referência, "4eva"...

Talvez o nascimento de seu 3º filho tenha levado Erikah para uma viagem mais sensível, do alto de sua maturidade de quem possui 39 anos. Mas, os samples estão lá, desta vez mais marcantes do que nunca. A maior parte das músicas deste álbum cabem numa pista de dança de r&b. Não foi à toa que a "atualização" do selo black mais famoso de todos os tempos, a Universal Motown, é quem lançou o disco. É um trabalho cheio de groove. Muito pessoal também, para manter as raízes autocentradas de seu trabalho de estréia.


A faixa com mais cara de rap do CD, "Turn Me Away (Get Munny)", é uma nítida referência a "Get Money", do falecido rapper nova-iorquino Notorius B.I.G., um clássico repaginado. As mais jazzísticas são "Out My Mind, Just In Time""Agitation", um interlúdio na verdade, que nos deixa com a sensação de quero mais... O baixão é predominante, como não poderia deixar de ser, mas os teclados estão lá também, como em "You Loving Me (Session)". No mais, "Window Seat", "Umm Hmm", "Love", "Fall In Love (Your Funeral)"... r&b na veia total!

Erykah já havia visitado o Brasil com o "Baduizm", seu primeiro CD (de 1997), quando tocou no Free Jazz Festival. Aguardamos ansiosos o seu retorno...