terça-feira, 29 de agosto de 2006

Corinne Bailey Rae

Que a cena R & B possui gran- des vozes femininas é indiscutível. Não dá pra negar o talento de uma Mariah Carey ou de uma Beyonce. São vocais afinadíssimos, arranjos muito bem elaborados e uma infra-estrutura milionária de produção. Os videoclipes possuem imagens cuja qualidade nos hipnotizam...

Por outro lado, e infelizmente, as letras são vergonhosas, apresentando com freqüência os mesmos temas batidos e chavões: exaltação ao consumismo, machismo e um erotismo vulgarizado. A fórmula se repete exaustivamente, a ponto de ter virado um modelo padrão, que quase ninguém arrisca não seguir – vide o último clipe da shakira, que se transformou numa sósia da Mariah tanto na aparência quanto nos gestos...

É neste momento que temos a felicidade de dar as boas vindas a uma nova cantora negra, que chega para nadar na contra mão da corrente: a inglesa Corinne Bailey Rae. O primeiro CD de
Corinne, que leva o mesmo nome da cantora de 26 anos, já lhe rendeu ouro nos EUA e platina na Europa. Possui arranjos diferenciados, com instrumentos acústicos como violão, o que projeta ao CD uma atmosfera diferenciada. Espera-se de Corinne a mesma postura e atitude adotados por Macy Gray, Lauryn Hill e Jill Scott. A influência do soul de Erykah Badu é perceptível, embora se admita que algo em Corinne lembra a cantora Billie Holiday, conforme release em seu site.

A videoclipe da musica “Put Your Records On” é de uma delicadesa que agride e ao mesmo tempo destoa dos outros videoclipes do gênero, provando que é possível falar de temas românticos de uma forma mais saudável. Em seu videoclipe, Corinne passea de bicicleta, enquanto nos demais videoclipes do tradicional R & B “as outras” rebolam freneticamente… A musica de Corinne está entre as mais tocadas, mostrando que não é uma obrigação se expor a um padrão de exploração que a indústria e o mercado musical se habituaram a exigir para obter sucesso. Resta a nós (o público) saber aplicar melhor os nossos critérios de seleção em meio a guerra das “cachorras” e “popozudas”.

Dica: bom para ouvir a dois!

Site nacional:
www.emi.com.br/corinne

Site gringo:
www.corinnebaileyrae.net

sábado, 26 de agosto de 2006

Spike Lee Põe de Novo o Dedo na Ferida

O conceituado Diretor de cinema Shelton Jackson Lee, o Spike (Ferrão) Lee, apelido dado pela sua mãe, está estreando no Estados Unidos o documentário “When the Levees Broke: A Requiem in Four Acts” (Quando os Diques se Romperam: Um Réquiem em Quatro Atos). Mais uma vez Spike Lee (de Faça a Coisa Certa, entre outros) bota o dedo na ferida da sociedade norte-americana: desta vez, sem poupar Bush e a Agência Federal de Administração de Emergências (Fema), além de outras autoridades. O filme vem para se somar às denúncias do rapper Kanye West de como o governo não se preparou para o desastre, mesmo com alguma previsibilidade, e como o socorro demorou a chegar.

"Nova Orleans está lutando por sua vida. Por isso o filme mostra a luta da cidade com um olho nas terríveis perdas e outro no espírito indomável dos que ali estavam" disse o Diretor de “Malcom X”. "O que ocorreu aqui foi um ato criminoso. A devastação não foi conseqüência somente da natureza. Alguém deveria ser preso por isso", protestou Spike Lee. Há cerca de um ano atrás, em um show em Nova York, o rapper Kaye West também se posicionou afirmando que “os Estados Unidos estão preparados para ajudar os pobres, os negros e os que têm menos da maneira mais lenta possível" e provocou uma polêmica que repercutiu no mundo todo..

O mais interessante do documentário é que ele dá voz aos protagonistas da tragédia: moradores e refugiados, brancos e negros. Isto mesmo apesar dos depoimentos de muita gente famosa. Calcula-se que 1 milhão e 500 mil pessoas ficaram desabrigadas. Mais de 1300 morreram. Estima-se que 80% da cidade ficou inundada.

Em matéria no caderno Mais! do dia 20 de agosto a Folha de S. Paulo ressaltou que o documentário procura mostrar que os moradores em geral, brancos e negros, foram vítimas do maior desastre natural da história dos Estados Unidos. Segundo a Folha, Spike Lee mostrou que uma classe social foi prejudicada e não apenas uma raça, com um enfoque diferente daquele usado em seus filmes anteriores que denunciaram contundentemente o racismo.

Este tipo de constatação vem bem a calhar por parte de um jornal que já deixou bem claro em sua linha editorial que é contra as cotas étnicas nas Universidades...

É difícil polarizar um debate sobre um documentário que ainda não vimos no Brasil – seria leviano de minha parte. Porém, mesmo sem assistir ao filme e considerando que a constatação seja correta, nada seria mais compreensivo: como todos sabemos, um fenômeno natural não discrimina, e portanto todos aquele que estavam na área de um furacão que atingiu cinco pontos na escala (a pontuação máxima) sofreram as consequências por isso. No entanto, quando a ação humana entra em campo, como no caso da postura das autoridades, em particular de sua autoridade máxima o Sr. George W. Busch, e o tratamento dispensado para com o problema varia entre a lentidão e a apatia, aí sim temos motivos de sobra para levantar suspeitas sobre a ocorrência de racismo, uma vez que sabemos bem o perfil da população de Nova Orleans.

Muito há que se apurar e refletir sobre o tema. É esperar para ver...

A rede HBO transmitiu a 1ª parte do documentário “When the Levees Broke: A Requiem in Four Acts” para os americanos na terça-feira da semana passada. Não há previsão de quando o filme chega ao Brasil. O filme será exibido também no Festival de Veneza, que começa dia 30 de agosto.