Assisti com muita curiosidade uma entrevista do candidato a presidência dos EUA Barack Obama. Filho de um queniano com uma americana, ele nasceu no Havaí, um estado norte-americano. Um homem distinto, muito elegante, bem humorado e agradável. Bem diferente do durão republicano John McCain, um cara que chega a dar medo.
As eleições primárias do Partido Democrata, quando Obama derrotou Hilary Clinton, criaram uma ilusão de que o processo eleitoral seria uma verdadeira barbada. Na verdade, as pesquisas mostram um certo equilíbrio. A disputa vai ser dura. De um país que possui Arnold Schwarzenegger governador e que elegeu Bush (duas vezes!) não podemos esperar grande coisa...
Obama pode se tornar o primeiro negro a ser presidente do maior Império do mundo, o que seria, do ponto de vista simbólico, um grande avanço. Nunca um candidato negro teve chances reais de vitória. Sua plataforma política é, sem dúvida, melhor que a do adversário republicano. Não há como não se entusiasmar, de uma certa forma, pelo que ele vem a representar. Num país onde somente dois partidos (bem parecidos né...) estão verdadeiramente no jogo eleitoral, Obama pode parecer, em algum momento, como uma alternativa interessante.
Mas que não nos iludamos...
Numa certa altura da entrevista, Obama faz com que botemos o pé no chão. Ao falar sobre o Iraque, por exemplo, ele se posiciona contra a guerra. Porém, na sequência, afirma, naturalmente, que não teria invadido o Iraque, porque teria mantido o foco no Afeganistão (?). Com a maior naturalidade do mundo, ele diz que se os EUA tivessem mantido o foco no Afeganistão, hoje Bin Laden estaria CAPTURADO ou MORTO. Assim, com a maior frieza do mundo. Na seguência, o senador se queixa do valor investido no Iraque (3 trilhões ou algo parecido...). Ou seja, a preocupação é o GASTO, e não as ATROCIDADES cometidas lá pelo Bush.
Questionado sobre suas raízes africanas e sobre sua viagem ao Quênia em visita a sua avó, ele afirmou que se surpreendeu com a receptividade, pois os quenianos foram muito calorosos na recepção a ele e sua família. Depois (não se iluda...), elogiou o trabalho da Fundação do Bill Gates na África, reconheceu que Bush sempre investiu no combate a AIDS por lá, mas tratou de deixar claro que cada país que cuide de seus problemas. Sobre o imperialismo norte-americano no continente, obviamente, nenhuma palavra. Questionado sobre o Haiti, ele disse que é uma "pena", porém tratou de lembrar New Orleans, onde, segundo ele, o sofrimento também estava sendo duro. Ficou claro, numa comparação evidentemente desproporcional, que ele pensa nos problemas dos EUA como prioridade e trata o resto do mundo como o resto do mundo, como se os problemas na África, por exemplo, não tivessem nada a ver com eles... Como se não houvessem empresas norte-americanas pagando cerca de R$ 0,30 por dia aos africanos, como se eles e os europeus não tivéssem saqueado o continente africano, retirando marfim, minérios, borracha, etc., o que acontece até hoje, inclusive. Como se eles não bancassem governos corruptos e ditatoriais anti-democráticos por lá para assegurarem seus interesses, o que tem custado a vida de milhares de pessoas por lá. A consciência de raça do Obama vai até onde termina a fronteira dos EUA.
Do ponto de vista do combate ao racismo, é importante que os negros assumam papéis de comando. Nossa consciência de raça somente será plenamente possível se tivermos auto-estima como base. Saber que os EUA de hoje é um país menos racista do que a 50 anos atrás é, sem dúvida, um avanço. Mas um avanço limitado, de um ponto de vista mais geral da emancipação do homem por completo em todos os cantos do planeta, para a superação do capitalismo e construção de uma sociedade mais justa. Obama é o retrato mais "brando" de uma sociedade que se julga o centro do universo, que olha somente o próprio umbigo, que considera a guerra uma banalidade necessária e corriqueira. Claro, tudo isso é o que garante, na visão egoísta deles, todos os privilégios que eles possuem às custas de massacres que eles mesmos patrocinam no mundo todo...
Ontem (17 de setembro de 2008) o programa do David Letterman exibiu duas entrevistas interessantes. A última (e menor) delas foi a do Lebron James, o fenômeno do basquete que entrou na liga da NBA direto do High School (colegial), sem passar pela Universidade antes. Com apenas 23 anos e 2,03 metros de altura, o jogador que é considerado o número 2 (o antipático Kobe Bryant é o "the best" - mas não na minha opinião...) do mundo atualmente. Apesar de visivelmente tímido, o campeão olímpico desfilou bom humor e simpatia. Uma figura interessante. Atualmente ele é companheiro do brasileiro Anderson Varejão no Cleveland Cavalier's. Tem atualmente carregado sua equipe nas costas, tendo ficado pelo caminho após perderem para o Boston Celtic's, que desbancou o popular Los Angeles Laker's na final e sagrou-se campeão da temporada 2007/2008. Valeu a pena ter ficado acordado até mais tarde, mesmo sendo um único bloco.
Este é o EUA, um país que desperta amor e ódio, ao mesmo tempo...
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