Pensar no graffiti é pensar no contexto urbano das grandes metrópoles do mundo todo. Desde meados dos anos 70 e 80, quando os membros das gangues de NY deixavam suas Tags de demarcação nos muros dos guetos, até os primeiros Bomb's e Wild Style's, muita água passou debaixo da ponte do hip hop...
Qualquer mano (ou mina) que queira marcar presença nos dias de hoje se expressando através do graffiti deve levar em conta toda a história do hip hop. É todo um legado, uma tradição, que temos de defender.
Ruínas em Belo Horizonte
É impressionante constatar onde o graffiti chegou... e onde pode chegar. Os letreiros, que caracterizam a base do graffiti, são a forma mais clássica e pura, a essência da arte das latinhas de spray. Sempre será assim. Mas eles dividem espaço, agora, com novas criações, novas formulações que transcendem os fundamentos básicos do graffiti. Novas influências, novas propostas. Mas com o mesmo espírito que motivou os primeiros "desbravadores" de metrópoles que deixavam suas marcas nos metrôs de NY há uns 30 (!) anos atrás...
Acima, Zezão deixa sua marca no Bronx, gueto de NY City
Um passo atrás do outro, cada um cumpriu com seu papel histórico. E o momento agora é de evolução. Não no sentido de melhoria, como se as formas iniciais do graffiti fossem inferiores, até porque elas são mais atuais do que nunca e estão aí até hoje, com toda a força, mas evolução no sentido de transformação. Assim é o trampo do Zezão. Difícil de definir, mas, ao mesmo tempo, um trabalho inconfundível. Seu estilo, para aqueles que tomaram contato, é sua marca registrada.
Uma ironia do destino: ao mesmo tempo em que os pixadores disputam espaço de destaque no topo dos arranha-céus paulistanos, Zezão se destaca justamente num espaço sujo e obscuro, para onde ninguém quer olhar: as galerias de esgôto. Genial. É o reino do contraditório, em pleno sub-solo da cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo. A arte de Zezão convive com tudo aquilo que a cidade rejeita e não quer pensar a respeito. É no mínimo intrigante...
Uma ironia do destino: ao mesmo tempo em que os pixadores disputam espaço de destaque no topo dos arranha-céus paulistanos, Zezão se destaca justamente num espaço sujo e obscuro, para onde ninguém quer olhar: as galerias de esgôto. Genial. É o reino do contraditório, em pleno sub-solo da cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo. A arte de Zezão convive com tudo aquilo que a cidade rejeita e não quer pensar a respeito. É no mínimo intrigante...
Graffiti em Paris
Paris
O que mais me impressiona no trampo do Zezão é a sua atualidade. Sua arte faz um diálogo com diversos dilemas de nossa sociedade: a preservação ambiental, a destinação do lixo, o crescimento desordenado das metrópoles. Seus "flops" (denominação dele para seus graffitis abstratos) azuis típicos contrastam com o contexto onde se inserem: são um toque de limpeza em meio à poluição, de paz em meio ao caos do abandono. Uma forma de chamar a atenção da sociedade para o que temos à nossa volta.
É legal ver um militante do hip hop com espaço de exposição na mídia não fazer feio. Isto é fundamental. Mais do que isto, mantendo os pés no chão, sem perder os vínculos com a rua.
Paris
Passamos todos os dias diante de uma série de lugares, que possuem muito para nos dizer: sobre nós, sobre nossa sociedade, sobre a vida no séc. XXI de um modo geral... Vivemos num mundo caótico, sem muitas vezes pensar nisso. O cidadão paulista, o mesmo que elegeu o "Rei do Cinza", transita todos os dias na marginal, fecha o vidro e vai embora... O trabalho do Zezão está obrigando os caras a abrir os vidros. Isto é fundamental se quisermos repensar o mundo em que vivemos.
O graffiti do Zezão parece o dedo do garoto na história da roupa nova do rei, a denunciar "o rei está nu!". Talvez por isto tenha chamado a atenção dos mais antenados e sensíveis artistas plásticos, acadêmicos, designers, arquitetos, etc. Toda essa gente se acotovela para abrir o Flickr do Zezão e olhar, mesmo que indiretamente, para o esgôto.
Me orgulho que o responsável por tal feito seja um cara do hip hop. Mas não me surpreende. Quem duvidou, aguarde, pois iremos ainda mais longe, com certeza. Afinal, um artista plástico que respira os ares "chic's" das galerias de arte, nunca iria respirar o cheiro fétido de bosta das galerias de esgôto...
O graffiti do Zezão parece o dedo do garoto na história da roupa nova do rei, a denunciar "o rei está nu!". Talvez por isto tenha chamado a atenção dos mais antenados e sensíveis artistas plásticos, acadêmicos, designers, arquitetos, etc. Toda essa gente se acotovela para abrir o Flickr do Zezão e olhar, mesmo que indiretamente, para o esgôto.
Me orgulho que o responsável por tal feito seja um cara do hip hop. Mas não me surpreende. Quem duvidou, aguarde, pois iremos ainda mais longe, com certeza. Afinal, um artista plástico que respira os ares "chic's" das galerias de arte, nunca iria respirar o cheiro fétido de bosta das galerias de esgôto...
Taí um cara que fez por merecer e representa o hip hop com muita dignidade. Os espaços estão aí, disponíveis à todos aqueles que batalharem por eles, de forma qualificada e honesta. Para todos aqueles que têm algo a dizer, e com originalidade.
Fonte das imagens: Flick do Zezão
Os trabalhos não-sinalizados são de galerias, ruínas ou córregos de São Paulo/SP. Para este post, coladorou Aliada Ci (www.aliadaci.blogspot.com)
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