Saiu o mais novo trampo do grupo Visão de Rua: "O Poder nas Mãos". O CD segue a fase iniciada com "A Noiva do Thock", trampo que colocou o Visão de volta no cenário e o consolidou como um dos grupos de rap mais importantes da cena brasileira do hip hop. Dina Di, a maior rapper do Brasil, sem sombra de dúvidas.
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O Visão faz um som muito característico, de muita personalidade. Fácil de reconhecer logo na primeira audição. Inconfundível... Um "feminismo do gueto", onde a mulher fala de sua condição numa linguagem muito diferente do discurso intelectualizado do feminismo tradicional. E de uma perspectiva diferente, com um enfoque diferente. Afinal, quantas feministas que abordam o tema dentro dos "muros" seguros da Universidade possuem um marido preso?
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xAs letras de Dina Di falam de sua experiência de vida, com muita propriedade. Não há espaço para demagogia. Seu rap é sua vida.
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Assim, temas nunca antes explorados por outros rappers surgem de suas palavras. A relação com o filho, a família desestruturada, o amor, o machismo, a violência doméstica... Todos estes temas surgem pela primeira vez no rap pela voz de Dina Di.
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Em entrevista recente, Viviane (a Dina Di) afirmou que cada CD seu é uma fase de sua vida. Este, com certeza, expressa a maturidade de quem optou pela criação dos arranjos (ela toca violão e canta), embora o sampler também apareça. Criar o arranjo não fez com que ela perdesse o foco, não descaracterizou seu rap, embora haja algo de único e inovador neste trabalho. Desta vez ela se arrisca mais, inclusive nos backing vocals.
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"É o trabalho mais completo que eu já fiz, em todos os sentidos. As letras são um reflexo da minha própria personalidade, da minha crença, da minha fé, da minha conduta, dos meus objetivos. 'As coisas mudam', e as pessoas também... e no meu caso foi pra melhor. Estou no meu melhor momento. Me sinto feliz por ter realizado esse trabalho... mesmo com tantas dificuldades. Agora é só alegria." (clique aqui para ler mais...) x
Embora ache que o trabalho anterior (A Noiva de Thock) seja insuperável, este com certeza ficou muito bom. Seria impossível tratar de cada faixa aqui, detalhadamente. Não haveria espaço. De qualquer forma, vou comentar o que mais me chamou atenção.
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Em "Minha Alma Chora", como manda a tradição, W-Dee (Consciência Humana) participa. A base segue bem o estilo do Visão seguido no álbum anterior. Muito boa. De uma forma geral, este álbum está mais acústico, num ritmo mais cadenciado, mais reflexivo. "As Coisas Mudam" e "Eles Falam de Paz" seguem a mesma linha.
"Meus inimigos ainda estão de pé, eu sei quem são
é minha alma que eles "quer" hehehe
Estranhos que se levantaram contra mim,
a inocentes anos, e que amam a violência...
O clima é de tensão, de decisão, poucas palavras "jão",
concentração, muita oração, muita calma ai, o pés no chão,
paz, união: uma adorinha sozinha não faz verão...
Felizes são os puros de coração. Os que tem cede de justiça,
os que praticam perdão. Os que buscam alívio, paz,
libertação aos humildes, os corajosos. Ai, os que tem fé: as coisas mudam...
(Refrão)
O tempo leva quem eu mais amei
O tempo leva os sonhos que sonhei
Desfaz os planos que eu tracei, de felicidade, de felicidade (que saudades...)
O tempo leva quem eu mais amei
os misterios que não desvendei
Os meus segredos que guardei, a 7 chaves, a 7 chaves..."
Dina Di
VISÃO DE RUA
"As Coisas Mudam"
"Durmindo com o Agressor" é uma paulada, na base e na letra. A melhor na minha opinião. Tem a cara das produções do KL Jay.
"A Filha do Rei" trata de amor, espiritualidade. Assuntos espinhosos. É difícil abordar estes temas sem que o resultado soe falso, artificial. Dina Di passa por estes tabus com muita propriedade, sinceridade e honestidade. O resultado é bem legal.
“Tem gente que dorme com medo... acorda com medo...
vive com medo... morre com medo...